Finalmente criei um blog, mas infelizmente os textos que coloco não são da minha autoria, um dia, quem sabe, me atrevo a escrever alguma coisa.
Estou tentando, ao máximo, ser fiel aos escritores, mas nem sempre consigo, então na incerteza da autoria, estou colocando AD (Autor Desconhecido). Com relação às fotos, estou buscando no Google e não cito as fontes por não saber a quem pertence.
Caso você encontre aqui algum erro de autoria, alguma foto que não posso usar sem citar a fonte, favor comunicar.

Meus beijos e sejam bem vindos!
Virgínia Costa

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Amor, liberdade, sexo e promiscuidade

“…A maioria das pessoas vê o problema do amor, antes de tudo, como o de ser amado, em lugar do de amar, da capacidade de alguém para amar. Assim, para essas pessoas o problema é como serem amadas, como serem amáveis. Na busca desse alvo, seguem diversos caminhos. Um deles, especialmente utilizado pelos homens, é ter sucesso, ter todo o poder e riqueza que a sua posição social permitir. Outro, especialmente utilizado pelas mulheres, é tornarem-se atraentes, pelo cuidado com o corpo, o vestuário, etc. Outros modos de se fazer alguém atraente, usados tanto por homens como por mulheres, são o desenvolvimento de maneiras agradáveis, conversação interessante, a prestatividade, a modéstia, a inofensividade. Muitas das maneiras de uma pessoa se tornar amável são as mesmas empregadas para obter sucesso, “para conquistar amigos e influenciar os outros”. Na realidade, o que a maioria dos de nossa cultura considera ser amável é, essencialmente, uma mistura de ser popular e possuir atração sexual.”

Trecho extraído do livro A Arte de Amar, de Erich Fromm.
Segunda-feira. Dois amigos solteiros almoçam juntos.
- E então, como foi a festa de sábado?
- Foi demais! Tinha mulher saindo pelo ralo. Peguei três e comi uma em meu apartamento. Ontem, domingo, saí com outra delas e que também já é certo que vou comer.
- Ué, sua namorada não foi?
- Não. Dei um perdido nela. Falei que estava cansado e que não queria sair. Eu tinha que ir sozinho nessa festa. Sabia que ia bombar.
- Que legal!! Você é foda!
Acabou o relato sobre a festa.

Durante muitos anos, tenho lido e ouvido que o mundo orbita em torno do sexo. Claro que sempre concordei com essa afirmação, pois sentia a sua verdade na minha pele e nos comportamentos das pessoas, principalmente dos homens. Aqueles menos providos de beleza física e/ou mais dotados de timidez eram, simplesmente, “menos” do que os outros cujas coleções de novas conquistas cresciam vertiginosamente e que sempre tinham um novo troféu de saia para exibir em suas galerias de títulos de garanhões da temporada.

O homem, principalmente – mas claro que não apenas ele, quando se veste, exercita seu corpo para ganhar músculos, compra um apartamento bem localizado, um carro ou uma roupa, estuda, atualiza-se a respeito do que está ocorrendo no mundo, tornando-se “o esclarecido”, consegue um bom emprego, melhora de salário, etc, no fundo, pensa em maiores facilidades para conseguir o que? Sexo.

Eu, por pura ingenuidade estúpida – mais estúpida do que ingênua, achava essa postura natural do ser humano macho. Natural não no sentido de comportamento normal – porque realmente o é; eu achava que fazia parte de nossa essência de macho mesmo. Atualmente, menos idiota, percebo que até certo ponto, sim, mas tenho conseguido enxergar um grande espaço para inserir um sensato não.

Gostaria de deixar bem claro que possuo um conceito bem diferente da moralidade sobre a promiscuidade. Ela, para mim, não está associada à intensidade da variação de parceiros sexuais. Associo a promiscuidade à qualidade dos encontros, às razões que levaram a pessoa a escolher o parceiro e com ele aceitar fazer sexo e com que frequência o sexo pelo sexo ocorre no cotidiano de determinado homem ou mulher, deixando a conhecida sensação de vazio.

Li, durante essas férias, duas vezes, o livro do sociólogo americano Anthony Giddens, da Universidade de Cambridge, chamado A Transformação da Intimidade. Essa leitura solidificou muitas conclusões que tenho tirado de experiências com as minhas liberdades interior e relacional, as quais tenho me proposto a aumentar cada vez mais.

Segue o relato de um homem, extraído do livro, feito durante uma reunião de um grupo de autoajuda para pessoas viciadas em sexo. Para quem não sabia, esses grupos existem, inclusive no Brasil, semelhantemente aos Alcoólicos Anônimos.

“Compreendi que as medidas que sempre havia assumido para afastar a dor tornaram-se imensuravelmente dolorosas: levar uma mulher para a cama não funcionava mais para mim. Perdi muita coisa na busca do meu vício, e a minha sensação de vazio pessoal agora me atingia minutos depois de minha última conquista. O sexo não me proporcionava nada além da liberação da minha ejaculação; muito frequentemente, sequer, eu conseguia atingir o orgasmo. As mulheres não eram mais objetos de amor ou de desejo. Eu havia atingido o ponto em que sentia repugnância por minhas parceiras, mesmo quando as penetrava, e a causa da minha aversão era, principalmente, o fato de eu saber o quanto eu precisava delas.[...] Nenhum de nós jamais sente aquela satisfação no abraço mais íntimo, que o instinto e a razão me dizem que deveria ocorrer.”

Independentemente do gênero, todos nós que temos ou tivemos, em algum período, vidas sexuais ativas, sabemos muito bem o que é essa sensação de nada, após o sexo ou no dia seguinte. O máximo que conseguimos é gozar – quando ocorre. Minutos depois, dá vontade de virar fumaça e sair pela janela, sem direito à despedida. Não houve o que chamo de “comunicação” ou troca de boas energias durante o sexo.

A mulher, em geral, não se permite novas tentativas sucessivas, freqüentes e em pouco espaço de tempo, em busca de outro encontro que talvez vá alimentar de verdade as carências de sua alma. Com isso, sua última experiência frustrante e vazia permanece por um bom tempo em sua mente, até tomar coragem para uma nova experiência. Muitas das vezes – mas nem sempre – ela tende a se reclusar sexualmente, por um período. O homem, se surgir uma nova oportunidade no dia seguinte, não a deixará passar. Ou seja, nele, existe sempre a esperança de que “amanhã será melhor”, permitindo-se experimentar, devido à “quase” ausência da culpa. Então, acumula uma sucessão de trepadas com as mesmas sensações: de nada. O que muda é se elas eram feias ou bonitas, extrovertidas ou tímidas, românticas ou resolvidas, ricas ou pobres, inteligentes ou limitadas, bundas e peitos grandes ou pequenos. Quanto às sensações, tudo igual. Depois ele se diz “experiente”.

Atualmente, tenho o prazer de estar descobrindo que esse sexocentrismo – podendo ser vício ou compulsão – e a desenfreada busca do ato sexual, com seu conseqüente vazio interior, são decorrentes, de uma forma bem simplista, da ausência de verdades nos relacionamentos, assim como do conhecimento e da liberdade das nossas sexualidades. Se não tenho intimidade com a minha essência, se não converso com o meu eu, jamais conseguirei saber o que a minha alma verdadeiramente deseja, do que ela precisa para ficar em paz, dando-me a sensação de bem-estar. Então, viro uma marionete da sociedade, que dita tudo que eu preciso.
Tudo tem me levado a concluir que as verdades – em um sentido muito amplo – são o ponto de partida para o nosso desenvolvimento como seres humanos. A partir delas surgirá a libertação interior e exterior e, consequentemente, da ditadura do sexo.

Estamos falando de que? De amor. Que tipo de amor? Amor pela verdade, amor pelo outro exatamente como ele é, independentemente de nossos interesses, necessidades e temores.

Erich Fromm, em seu livro A Arte de Amar, diz que “… a principal condição para realização do amor é a superação do narcisismo. A orientação narcisista é aquela em que só se experimenta como real o que existe dentro da pessoa, ao passo que os fenômenos do mundo exterior não têm realidade em si mesmos, mas são experimentados somente do ponto de vista de serem úteis ou perigosos. O pólo oposto ao narcisismo é a objetividade; é a faculdade de ver pessoas e coisas tais como são, objetivamente, e a capacidade de separar esta imagem objetiva de uma imagem formada pelos desejos e temores que se tenham. Todas as formas de psicose mostram a incapacidade de ser objetivo, em extremo grau. Para a pessoa insana, a única realidade que existe está dentro dela, é a de seus temores e desejos”.

A nossa sociedade narcisista, romântica e patriarcal inventou um mundo irreal para que nele vivêssemos e o aceitamos sem nada questionar. Inconformado, resolvi afrontar esse mundo imposto, e a reboque, sua sociedade, o romantismo, o patriarcado e tudo mais que castrava o meu livre-arbítrio, na tentativa de descobrir do que eu realmente preciso para viver em paz. Curiosamente, descobri que, inicialmente, em sequência lógica, só preciso do seguinte:
1) Conseguir ficar sozinho – só toma conhecimento do que é o amor puro e verdadeiro aquele que exercita a solidão e consegue conviver bem com ela, Poucos conseguem enxergar nela a poderosa e única aliada para o autoconhecimento, logo, poucos têm contato com esse tipo de amor;

2) Exercer e estimular, cada vez mais, sem medo do desconhecido ou vergonha de ser diferente, a expressão da verdade sobre minha sexualidade, assim como a de quem estiver comigo, mesmo que as duas passem como um rolo compressor sobre todos os proibitivos preceitos morais vigentes – sem dúvida, passarão;

3) Exercitar o pensamento, a expressão e a ação da minha liberdade e permitir que as pessoas com quem me relaciono façam o mesmo. Quanto mais a pratico, mais descubro quanto tempo eu perdi e o quanto fui enganado pela masculinidade que me ensinaram a exercer; e

4) Ter coragem para ousar práticas de relacionamentos nada usuais e condenados pela sociedade, quando acredito serem factíveis e superiores aos convencionais, sintéticos e nada naturais, baseado somente em minha consciência e intuição, após várias conversas comigo mesmo – que ocorrem diariamente.

Durante algum tempo praticando o acima descrito, estou tendo uma grata surpresa, ao perceber o meu narcisismo desaparecendo, aos poucos. Finalizei o processo? De forma alguma. Ele está apenas no começo, mas já tem me rendido excelentes frutos. O principal deles foi passar a dar menos importância ao sexo, tirando-o da condição de protagonista das minhas relações e colocando-o em seu devido lugar: o de uma agradável e inevitável conseqüência. Aqui entra a objetividade comentada por Erich Fromm. É bastante óbvio e racional que eu só posso amar e desejar de verdade aquele que eu conheço de verdade – e isso se estende às relações entre amigos e entre pais e filhos. A palavra desejo sempre nos remete ao sexo. Porém, falo de desejo pelo ente humano que com ele carrega suas idéias, comportamentos, idiossincrasias e filosofia de vida… mais uma vez, apesar dos nossos interesses, necessidades e temores.

Somente agora, no finalzinho do artigo, entro na questão central do post. Atualmente, vivo em total liberdade e em intenso regime de verdades, tendo apresentado a todas as mulheres que conheço, parceiras ou apenas amigas, quem realmente sou, além de, avidamente, demonstrar querer saber quem elas também são, o que pensam, estimulando-as, sinceramente, a assumir e exercer suas sexualidades. Deixo claro que somente eu tomo as decisões sobre minha vida e faço minhas escolhas – e vice-versa. Isso tem sido compreendido e tenho conseguido, com sucesso, manter relacionamentos intensos de amizade e cumplicidade, com amigas ou parceiras sexuais – que também nunca deixam de ser verdadeiras amigas.

O interessante é que, apesar da liberdade, encontro-me, atualmente, em um regime praticamente de monoamor – ou de monogamia sexual, como é mais conhecido, sem controles e cobranças. Pura opção mesmo, apesar de eu não estar fechado a nada. Por quanto tempo mais pode durar essa escolha? Não sei e não me preocupo com isso. Posso passear entre momentos de mono e polirrelações, contanto que eu esteja bem comigo mesmo e que as verdades nunca sejam deixadas de lado. Pergunto: essa tranquilidade e paz é, estranhamente, apesar da liberdade ou é decorrência dela? Tenho certeza de que é consequência.

Assim sendo, será que a liberdade é tão perniciosa aos relacionamentos quanto os românticos defendem estereotipadamente e sem pensar? Ou será que não passa de uma postura covarde decorrente de inseguranças narcisistas? A grande maioria dos homens – praticamente todos – não faz idéia do quanto essa masculinidade imposta, com o mito do corno, da posse, dominação, honra, virilidade, infalibilidade sexual, etc, elimina qualquer possibilidade de um relacionamento puro e verdadeiro. Não fazemos idéia do quanto esses mitos nos tornam pequenos, mesquinhos, egoístas e incapazes de amar, no sentido mais sublime da palavra.

Em meio à transformação social que se encontra em curso há algumas décadas, há tempo entramos na fase da busca dos relacionamentos especiais, que vai muito além da busca da pessoa especial – boazinha, companheira, cuidadosa, fiel, que abdica de suas vontades para satisfazer o outro, etc. Basta olharmos em volta e veremos inúmeros casamentos entre “pessoas especiais” sendo desfeitos, por iniciativas femininas, por serem relacionamentos insatisfatórios. Infelizmente, poucos homens conseguem se sensibilizar a esse respeito… estão ficando para trás e mesmo assim não conseguem enxergar conscientemente a poeira que as mulheres estão deixando. Resumindo, estão perdidos.

Se os fanáticos românticos conseguissem entender que a liberdade e as verdades proporcionam uma paz interior capaz de minimizar bastante o ímpeto masculino de ser “promíscuo”, de trepar, tornando as pessoas muito mais seletivas, ensinando-lhes o que é sentir verdadeiro afeto em um abraço e a amar em um sentido bem amplo e desfocado do sexo… se soubessem como é maravilhoso não ter medo das verdades do parceiro, vivendo e também proporcionando a liberdade, deixando o par muito mais seguro – já que a segurança é o que mais buscam, cinicamente nomeando-a de amor – deixariam de lado as mentiras e migrariam “voando” para o regime de liberdade. Aqueles vazios no café da manhã do dia seguinte dificilmente voltarão a tomá-los.

A hipocrisia dos casamentos institucionais tidos como moralmente corretos, além de limitar os relacionamentos à superficialidade, ainda tem a característica de lançar cônjuges e namorados – sem o(a) parceiro(a) – em direção ao proibido, que são os “episódicos encontros Miojo”, quando o sexo e a novidade assumem imensa importância. Então, vivemos repetindo que o proibido é extremamente excitante – e não o deixa de ser. No entanto, devido às mentiras, acabamos nos contentando com esses romances furtivos e deixamos de conhecer outros encontros muito mais excitantes e cheios de sensações cúmplices, quando duas pessoas resolvem conhecer juntas o que existe por trás das disseminadas imoralidades proibidas. Porém, agora em um ambiente desprovido de mentiras, culpas e, consequentemente, favorável às novas descobertas, que vão muito além do sexo: sobre a própria vida. Dessa forma, troca-se o Miojo por um banquete real, quando se descobre que a liberdade torna os relacionamentos muito mais nobres e é bem mais excitante do que o proibido.

Muito do que escrevi sobre os homens adequa-se perfeitamente aos atuais comportamentos de muitas mulheres. Porém, existem várias nuanças e diferenças que esclarecerei durante os comentários, a fim de que o artigo não se torne enorme – já não ficou?

(Extraído do site: http://elanuaecrua.com.br)

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