Finalmente criei um blog, mas infelizmente os textos que coloco não são da minha autoria, um dia, quem sabe, me atrevo a escrever alguma coisa.
Estou tentando, ao máximo, ser fiel aos escritores, mas nem sempre consigo, então na incerteza da autoria, estou colocando AD (Autor Desconhecido). Com relação às fotos, estou buscando no Google e não cito as fontes por não saber a quem pertence.
Caso você encontre aqui algum erro de autoria, alguma foto que não posso usar sem citar a fonte, favor comunicar.

Meus beijos e sejam bem vindos!
Virgínia Costa

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Orgulho de ser Nordestino

A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.

Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra... outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.

Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!".

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos" Houaiss e Aurélio) do nosso país.

E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura...

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner...

E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...

Ah! Nordestinos...

Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!

Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

(José Barbosa Junior, na madrugada de 03 de novembro de 2010. )

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Eu e você frente a frente...

Eu e você, frente a frente...
É o medo e o desejo;
É a desconfiança e a esperança;
É o grito e o silêncio;
É o gelo derretendo no fogo...

Eu e você, frente a frente...
É ter sempre que me confrontar;
Encarar os meus erros e minhas razões...

As minhas verdades e as minhas ilusões;
Meu poder e minha impotência;
A minha liberdade e os meus limites...

Quando eu tô na sua frente...
Eu sinto toda a minha dor;
Mas só na sua frente
Eu posso sentir todo o meu amor.

(Luiz Antônio Gasparetto)

domingo, 7 de novembro de 2010

"... isso que chamamos de amor, esse lugar confuso entre o sexo e a organização familiar..."

Sérgio, não sabia como começar - então comecei copiando essa frase aí de cima, é Caetano Veloso numa entrevista ao JB, vim lendo pelo caminho, não consegui me livrar dela.

Agora estou aqui, escrevendo para você no meu quarto antigo, que minha mãe conserva tal-e-qual, como se eu um dia fosse voltar para casa. E lá se vão - quantos mesmo? - sei lá, quinze vinte anos, qualquer coisa assim.

Chove. Faz frio. É bom estar aqui. Tão bom. Me sinto protegido. Ficamos vendo velhas fotografias, bebendo vinho e rindo muito. Meu irmão Felipe vestiu um modelinho de couro negro e saiu "para dar uma prensa numa caixa de supermercado". Márcia está tão bonita. E Rodrigo, meu sobrinho, que tem dois anos e não parece quase me desconhecer. Deixei-os vendo um filme antigo dos Beatles, Lennon repetindo "don´t let me down" - e agora percebo que meu inglês anda tão precário que não lembro se é d´ont ou don´t.

Cansado, cansado. Quase não dormi. E não consigo tirar você da cabeça. Estou te escrevendo porque não consigo tirar você da cabeça. Hesito em dizer qualquer coisa tipo me-perdoe ou qualquer coisa assim. Mas quero te contar umas coisas. Mesmo que a gente não se veja mais. Penso em você, penso em você com força e carinho. Axé.

Foi mau, ontem. Fui mau, também. Menos com você, mais comigo mesmo. Depois não consegui dormir. Me bati pela casa até quase oito da manhã. Teria telefonado para você, não fosse tão inconveniente. Acabei ligando para Grace, pedi paciência, chorei, contei, ouvi.

Não era nada com você. Ou quase nada. Estou tão desintegrado. Atravessei o resto da noite encarando minha desintegração. Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro. Farpas. Uma pressa, uma urgência. E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar.

Te escrevo com um cigarro aceso e uma xícara de chá de boldo. A escrivaninha é muito antiga, daquelas que têm uma tampa, parece piano. Tem um pôster com Garcia Lorca na minha frente. Um retrato enorme de Virginia Woolf. E posso ver na estante assim, de repente, todo o Proust, e muito Rimbaud, e Verlaine, Faulkner, Ítalo Svevo, William Blake. Umas reproduções de Picasso. Outras de Da Vinci. Um biscuit com um pierrô tão patético. Uma pedra esotérica ainda de Stonehenge, Inglaterra, uma caixinha indiana. Todos os meus pedaços aqui.E você não me conhece, eu não conheço você.

Te escrevo por absoluta necessidade. Não conseguiria dormir outra vez se não te escrevesse.Zelda, há também o único romance escrito por Zelda Fitzgerald, a mulher de Scott Fitzgerald, que morreu louca, um incêndio, um hospício. Chama-se "Save me the waltz". "Reserve-me a valsa", não é lindo? Lembra o Brahma, se se dançasse no Brahma.

Please, save me the waltz.

Fiz fantasias. No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio. Até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. Que você fosse ao aeroporto. Casablanca, última cena. Todas as cartas de amor são ridículas. Esse lugar confuso de que fala Caetano. E eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. Mas não me permiti, não te permiti, não nos permiti. Pedro Paulo me dizendo no ouvido "nunca vi essas luz nos seus olhos".

Eu não queria saber. Tão artificial, tão estudado. Detesto ouvir minha voz no gravador ou ver minha imagem em vídeo. Sôo falso para mim mesmo. A calma, o equilíbrio, as palavras ditas lentamente, como se escolhesse. Raramente um gesto, um tom mais espontâneo. Tão bom ator que ninguém percebe minha péssima atuação.

Você compreende tudo isso?

Pausa. Campainha. O jornal de domingo. Desço, outro chá de boldo. Um comentário de Rubens Ewald sobre Aqueles dois, diz que é excelente, fala da "dignidade e tratamento delicado dado ao tema". Lembro da crítica de Sérgio Augusto, de como fez mal por dentro. Já passou.

Quando pergunto você-compreende-tudo-isso não estou subestimando você. Ah, deus, perdoe. Não sinto agressividade nenhuma em relação a você. E gosto das tuas histórias. E gosto da tua pessoa. Dá um certo trabalho decodificar todas as emoções contraditórias, confusas, soma-las, diminui-las e tirar essa síntese numa palavra só, esta: gosto.

Dormi umas três horas e acordei ouvindo Quereres, de Caetano. Repeti, várias vezes, cada vez mais alto. Ah, bruta flor do querer. Discutia tanto com Ana Cristina César, antes que ela acolhesse a morte (acertadamente? Me pergunto até hoje, nunca sei responder): nossa necessidade fresca & neurótica de elaborar sofrimentos e rejeições e amarguras e pequenos melodramas cotidianos para depois sentar Atormentado & Solitário para escrever Belos Textos Literários.

O escritor é uma das criaturas mais neuróticas que existem: ele não sabe viver ao vivo, ele vive através de reflexos, espelhos, imagens, palavras. O não-real, o não-palpável. Você me dizia "que diferença entre você e um livro seu". Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos. Alguns estranhos.

Não há nenhum subtexto nisto que te escrevo. Não acho bonito que a gente se disperse assim, só isso. Encontre, desencontre e nada mais, nunca mais, é urbano demais - e eu nasci praticamente no campo, até os 15 anos quase no campo, céu e campo. Não sei se a gente pode continuar amigo. Não sei se em algum momento cheguei a ver você completamente como Outra pessoa, ou, o tempo todo, como Uma Possibilidade de Resolver Minha Carência. Estou tentando ser honesto e limpo. Uma possibilidade que eu precisava devorar ou destruir. Porque até hoje não consegui conquistar essa disciplina, essa macrobiótica dos sentimentos, essa frugalidade das emoções.

Fico tomado de paixão.Há tempos não ficava.

E toda essa peste, meu amigo. O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, "esse lugar confuso", o Amor um dia. E de repente te proíbem isso. Eu tenho me sentido muito mal vendo minha capacidade de amar sendo destroçada, proibida, impedida, aos 36 anos, tão pouco. Nem vivi nada ainda. E não sou sequer promíscuo. Dum romantismo não pós, mas pré todas as coisas - um romantismo que exige sexualidade e amor juntos. Nunca consegui. Uns vislumbres, visões do esplendor. Me pergunto se até a morte - será? Será amor essa carência e essa procura de amor, nunca encontrar a coisa?

Das minhas heterossexualidades, dois filhos mortos, não ficou nada. Das minhas homossexualidades, esse pânico lento e uma solidão medonha. A hora é tão grave.

Vim pegar energia. Sim. Preciso ver a terra, preciso do horizonte do pampa. Já começa a agir, meus ombros se soltaram. Olhei no espelho e aquela ruga entre as sombrancelhas se desfez.

Não quero me tornar uma pessoa pesada, frustrada, amarga. Não vou me tornar assim. Então vacilo, escorrego e a mania de perfeição virginiana e a estética libriana no dia seguinte me dizem "que vergonha, que vergonha, que vergonha".

Eu podia dizer que tinha/tínhamos bebido demais. Eu podia dizer que estava com tanto medo de vir para Porto Alegre. Eu podia contar a você dos meus últimos meses, oito, dez, doze horas por dia sobre a máquina de escrever, falando com quase ninguém. Sozinho, às vezes. Cantando também. Tudo isso, se eu te dissesse, talvez tivesse ajudado a doer menos em você.

De repente me passa pela cabeça que você pode estar detestando tudo isso e achando longo e choroso e confuso. Mas eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir. Tento não ficar assustado com a idéia que este tempo aqui é curto, que eu vou voltar a São Paulo e que talvez não veja mais você. Sei que não fico assustado demais, e enfrento, e reconstituo os pedaços, a gente enfeita o cotidiano - tudo se ajeita. Menos a morte.

Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.

Quando te falo da idade, quando te falo do tempo, e não tivemos tempo - queria te falar de Cronos, Saturno, da volta pelo Zodíaco quando se completa 30 anos. A tua estrela é muito clara, tem sinais bons na tua testa. Compreendo teu Plutão e a Lua encarcerados na casa XII - as emoções e paixões aprisionadas -, e também Urano, todo o impulso bloqueado. Na mesma casa, a do Karma, a dos espíritos que mais sofrem, tenho também o Sol, Mercúrio e Netuno. Somos muito parecidos, de jeitos inteiramente diferentes: somos espantosamente parecidos. E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim - para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura. Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis, desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem.

Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas.Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.

Com cuidado, com carinho grande, te abraço forte e te beijo,

(Caio Fernando Abreu)
Porto Alegre, 10 de agosto de 1985
"Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa"

(Caio Fernando Abreu)

sábado, 6 de novembro de 2010

"porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência."

(Caio Fernando Abreu)

"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és..."

(Caio Fernando Abreu)
“Ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia, duas décadas de convívio cotidiano, mas ando, ando, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara.”

(Caio Fernando Abreu)
"(...) Claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodka, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e lexotan,depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a ban-chá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina ou ligo para o CVV às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas do tipo preciso-tanto-de-uma-razão-para-viver-e-sei-que-esta-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá, até o sol pintar atrás daqueles edifícios, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma?”

(Caio Fernando Abreu)
"E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar".

(Caio Fernando Abreu)
"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!”

(Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Leal ou fiel?

Sou da opinião que lealdade e fidelidade são duas coisas bem diferentes, em que pese o fato de serem facilmente confundíveis.

Diferenciar coisas tão parecidas, e que ainda por cima se completam e se confundem é uma tarefa extremamente difícil, o que geralmente requer que se usem exemplos claros e práticos para dirimir qualquer possível duvida.

A principio pode-se pensar que se trata do uso de palavras diferentes para expressar a mesma idéia, a mesma ação, o mesmo sentimento. Não é. Da mesma forma que ética é diferente de moral, lealdade difere de fidelidade.

Lealdade é uma espécie de mãe, de coletivo de fidelidade. Lealdade você tem que ter em primeiro lugar para consigo mesmo para que só então, possa ser no mínimo fiel para com os outros.

O mais incrível nisso tudo é que o oposto de fidelidade é infidelidade e de lealdade é deslealdade. No entanto há uma palavra que sintetiza o oposto das duas. Traição. Inclusive, traição não possui um antônimo único, prefixal. Não existem as palavras intraição ou destraição.

Há uma linha tênue entre estes dois sentimentos, entre estas duas ações, mas em minha opinião, são coisas bem distintas uma da outra.

(in) fidelidade A fidelidade e a lealdade para com os outros não existe, de facto. Somos fieis e leais a nós mesmos e aos nossos valores. Somos fieis sempre, tanto com x como com y. Somos leais aos amigos, tanto masculinos como femininos. A fidelidade e a lealdade é, portanto, algo de muito pessoal e não depende assim tanto do outro como alguns pensam.

Porém, o conceito de fidelidade difere muito de pessoa para pessoa. Para alguns, é trair com o pensamento: desejar alguém intensamente. Para outros, é haver envolvimento amoroso. Para certas pessoas, é um envolvimento sexual.

(Joaquim Haickel)

sábado, 2 de outubro de 2010

A gaiola

Dentro de uma linda gaiola vivia um passarinho, que tinha uma vida segura e tranqüila. Era monótona, é verdade, mas a monotonia é o preço que se paga pela segurança.

Nos limites de uma gaiola, os sonhos aparecem, mas logo morrem, por não haver espaço para baterem asas. Só fica um grande buraco na alma, que cada um enche como pode.

Assim, restava ao passarinho ficar pulando de um poleiro para outro, comer, beber, dormir e cantar. O seu canto era o aluguel que pagava ao seu dono pelo gozo da segurança da gaiola.

Do seu pequeno espaço ele olhava os bem-te-vis, atrás dos bichinhos; os beija-flores, com seu mágico bater de asas; as rolinhas, arrulhando, fazendo amor; as pombas, voando como flechas. Ah! Ele queria ser como os outros pássaros, livres… Ah! Se aquela porta se abrisse…

Pois não é que, para sua surpresa, naquele dia o seu dono a esqueceu aberta? Agora ele poderia agora realizar todos os seus sonhos. Estava livre, livre, livre!

Ele saiu e voou para o galho mais próximo. Olhou para baixo e pensou: “Puxa! Como é alto! O chão da gaiola fica bem mais perto”. Sentiu um pouco de tontura. Teve medo de cair, e agachou-se no galho, para ter mais firmeza. Viu outra árvore mais distante, teve vontade de ir até lá, mas não estava seguro de que suas asas agüentariam, e agarrou-se ao galho mais firmemente ainda.

- Hei você! – era uma passarinha – Vamos voar juntos até aquela pimenteira? Ela está carregadinha de pimentas vermelhas e deliciosas. É preciso apenas prestar atenção no gato, que anda por lá…

Ele ficou todo arrepiado só de ouvir o nome gato, e disse para a passarinha que não gostava de pimentas. A passarinha então procurou outro companheiro, já que ele decidiu continuar com fome.

Chegou o fim da tarde e a noite se aproximava. Onde iria dormir? Lembrou-se do prego amigo, na parede da cozinha, onde a sua gaiola ficava dependurada. Teve saudades dele.

Teria de dormir num galho de árvore, sem proteção? Gatos sobem em árvores? Eles enxergam no escuro? Tinha também que pensar nos meninos com seus estilingues, no dia seguinte.

Ele nunca imaginara que a liberdade fosse tão complicada. Teve saudades da gaiola, e voltou. Felizmente a porta ainda estava aberta. Em seguida chegou o dono, e percebendo a porta aberta, imediatamente a fechou e disse: “Passarinho bobo! Passarinho de verdade gosta mesmo é de voar!”.

Mas o passarinho preferiu voltar para sua “vidinha” tranquila e segura…

(Adaptado por Marco Fabossi do Texto de Rubem Alves)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Pastel de vento

Outro dia encontrei uma carta que escrevi, sei lá, em mil novecentos e noventa e alguma coisa. Relendo-a, fica nítido que foi motivada por um rancor cortante que sempre acompanha o desmoronamento do castelo de tentativas frustadas que, juntas, adoramos chamar de "relação". Quando acaba, é um alívio, frustrante, mas um alívio.

O envolvimento aconteceu por um erro absolutamente vulgar: o desejo de fazer com que tudo saia como queremos, vá pra onde guiamos. "O que você pensa possuir é o que te possui." Frase vaga, é certo, mas não menos realista por isso. Não há nada de errado com o óbvio - só é penoso vê-lo, mas, cedo ou tarde, paramos de tentar encaixar o redondo no oval. Seja por inteligência ou por cansaço.

Errar é um porre. O maior deles, talvez. Mas é uma das únicas maneiras pra aprender, de vez, que não se deve enfiar o dedo na tomada, misturar destilados com fermentados, nem trair sem esperar que mudanças aconteçam, porque acontecem, você admitindo ou não. Alguns têm a sorte de o trem não descarrilar por causa de um capricho idiota (paixão temporária, imaturidade, chame como quiser).  Outros, menos afortunados, vão parar em estações completamente diferentes, longe de tudo e bem pertinho do lugar para onde eles próprios têm vontade de se mandar quando notam a besteira feita, quando a nova paisagem perde a "magia". Eu cheguei, apesar dos problemas no percurso, ao lugar que sonhei. E daqui não pretendo sair, por mais excitante que pareça a cidade vizinha, porque existe algo nela que sou incapaz de mudar: lá, eu nunca estarei em casa.

"Nunca me contentei com nada. De certa forma, a constante vontade de tudo era motivo de orgulho - me tornava especial, inquietante. Até o instante em que vi que algumas coisas simplesmente não valem a pena.
Não por serem pecaminosas nem por pertencerem ao terreno minado da moralidade.
Nem sequer se relacionam com consciência ou motivação menos racional.
Nem por serem tristes ou cômicas.
Não é isso.
Apenas, essas coisas são grandes e atraentes pastéis recheados de vento. 'Como vai você?' oferecido em esquinas barulhentas.

Não sei quantas vezes errei por achar que esperar era estupidez. Paciência confundida com covardia. Ação era o que importava - e eu sempre conseguia, no final, o prêmio pela empreitada. Mesmo não fazendo idéia de sua utilidade.
E por isso joguei pessoas no lixo.
Traí.
Menti.
E mesmo assim agradecia aos céus por ser tão espontânea, passional. Hoje, agradeço por ter aprendido que rogar atenção a quem não se importa não vale a pena.
Ou pedir amor.
Exigir amizade.
Tomar porre de pinga ruim.
Discutir com ignorantes.

Paciência é a maior virtude, agora sei. Ainda bem que a tive para perceber que seu lugar é mesmo do outro lado da rua, com outras pessoas, falando sobre assuntos que em nada me interessam (por mais que eu tenha me esforçado). O bom senso me devolveu a paz que quase perdi por recear aceitar que minha felicidade está na calma e não na sua cama.

Sua infância mal ultrapassada.
Seu armário trancado demais.
A falta de palavras.
O excesso de ausência. Tudo minou até a minha incrível capacidade de persistir: não dá pra apostar o futuro numa mesa em que o maior prêmio é um orgasmo e um beijo na testa.

Pra mim, você simplesmente não vale a pena."


(Ailin Aleixo)

A fila anda

Quem é que nunca teve um Marcelo, um Felipe, um Ricardo, um Julio, um Alexandre ou um Guilherme na vida? Tudo bem, pode ser uma Juliana, uma Ana, uma Patrícia ou uma Aline...

Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo!

A "fila" anda, a coleção de "figurinhas" cresce, a conta de telefone é sempre altíssima. Mas e aí? O que isso te acrescenta? Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca logo na sua vida???

Se o tal "amor" é impontual e imprevisível que se dane! Não adianta: as pessoas são impacientes! São e sempre vão ser! Tem gente que diz que não é... "Eu não sou ansioso, as coisas acontecem quando tem que acontecer."

Mentira! Por dentro todo ser humano e igual: impaciente, sonhador, iludido... Jura de pé junto que não, mas vive sempre em busca da famosa cara metade! Pode dar o nome que quiser : amor, alma gêmea, par perfeito, a outra metade da laranja... No fim da tudo no mesmo. Pode soar brega, cafona... Mas é a realidade. Inclusive o assunto "amor" é sempre cafonérrimo.

Acredito que o status de cafona surgiu porque a grande maioria das pessoas nunca teve a oportunidade de viver um grande amor. Poucas pessoas experimentaram nesta vida a sensação de sonhar acordada, de dormir do lado do telefone, de ter os olhos brilhando, de desfilar com aquele sorriso de borboleta azul estampado no rosto... Não lembro se foi o "Wando" ou se foi o "Reginaldo Rossi" que disse em uma entrevista que se a Marisa Monte não tivesse optado pelo "Amor I love you" e que se o Caetano não tivesse dito "To me sentindo muito sozinho.." eles não venderiam mais nenhum disco.Não adianta, o publico gosta e vibra com o "brega".

Não adianta tapar o sol coma peneira. Por mais que você não admita: - Você ficou triste porque o Leonardo di Caprio morreu em Titanic" e ficou feliz porque a Julia Roberts e o Richard Gere acabaram juntos em "Uma Linda Mulher".

Existe pelo menos uma musica sertaneja ou um pagodinho" que te deixe com dor de cotovelo;
- Quando você esta solteiro e vê um casal aos beijos e abraços no meio da rua você sente a maior inveja;
- Você já se pegou escrevendo o seu nome e o da pessoa pelo qual você esta apaixonada no espelho embaçado do banheiro, ou num pedacinho de papel;
- Você já se viu cantando o mantra "Toca telefone toca" em alguma das sextas-feiras de sua vida, ou qualquer outro dia que seja;
- Você já enfiou os pés pelas mãos alguma vez na vida e se atirou de cabeça numa "relação" sem nem perceber que você mal conhecia a outra pessoa e que com este seu jeito de agir ela te acharia um tremendo louco;
- Você, assim como nos contos de fada, sonha em escutar um dia o tal "E foram felizes para sempre".

Bem , preciso continuar? Ok, acho que não... Negue o quanto quiser, mas sei que já passou por isso, e se não passou, não sabe o quanto esta perdendo.... "O problema de resistir a uma tentação e que você pode não ter uma segunda chance" "Falo a língua dos loucos, porque não conheço a mórbida coerência dos lúcidos."


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sábado, 28 de agosto de 2010

Justo amor

Podia ser só amizade, paixão, carinho,
admiração, respeito, ternura, tesão.
Com tantos sentimentos arrumados
cuidadosamente na prateleira de cima,
tinha de ser justo amor, meu Deus?
Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo;
aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim.
Dilacerando felicidades de mentira,
desconstruindo tudo o que planejei,
Abrindo todas as janelas para um mundo deserto.
É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias,
me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos,
ilumina o corredor por onde passo todos os dias.
É agora que quero dividir maçãs, achar o fim do arco-íris,
pisar sobre estrelas e acordar serena.
É para já que preciso contar as descobertas, alisar seu peito,
preparar uma massa, sentir seus cílios.
“Claro, o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã
e tudo chegará no tempo exato. Mas e o dia de hoje?”
Não quero saber de medo, paciência, tempo que vai chegar.
Não negue, apareça. Seja forte.
Porque é preciso coragem para se arriscar num futuro incerto.
Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma
que só sabe viver presentes.
Sem esperas, sem amarras, sem receios,
Sem cobertas, sem sentido, sem passados.
É preciso que você venha nesse exato momento.
Abandone os antes. Chame do que quiser. Mas venha.
Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates…
Apague minhas interrogações.
Por que estamos tão perto e tão longe?
Quero acabar com as leis da física,
dois corpos ocuparem o mesmo lugar!
Não nego. Tenho um grande medo de ser sozinha.
Não sou pedaço. Mas não me basto.

(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O que é... NETWORKING?

Net, como todo mundo ficou sabendo depois da Internet, é "rede". Mas work, palavrinha quase sempre traduzida apenas como "trabalho", tem um sentido mais amplo em inglês: é qualquer aplicação de energia orientada para um propósito específico. Trabalhar é só uma das muitas alternativas. Trocar o pneu do carro ou comer um sanduíche são outras. Foi quando as primeiras estações de televisão americanas começaram a retransmitir suas imagens para todo o país que surgiu o termo "networking", para definir esse esforço conjunto de difusão.

Por aqui, há alguns anos, dizia-se que, para ter uma chance em uma empresa, uma pessoa precisava de Q.I., isto é, "Quem Indicou". A palavra "Networking" é uma nova maneira de dizer a mesma coisa: quanto maior for a rede de contatos, melhor é a possibilidade de se conseguir uma boquinha. Mas, antes de saber o que é networking, é necessário entender o que networking não é:

Amigos do peito. Networking não tem nada a ver com amizade, é uma relação puramente profissional. Uma espécie de "toma lá, dá cá", em que alguém ajuda alguém já antevendo o dia em que poderá solicitar a retribuição da "gentileza". Amigos não cobram favores, enquanto integrantes de uma rede de contatos dependem disso.

Mailing. Quem vive mandando mensagens via e-mail para um grupo de pessoas e recebendo outras em troca, não tem um networking, mas apenas uma relação informal, do tipo que vários freqüentadores de uma mesma churrascaria teriam. Networking pressupõe "auxílio profissional", e não apenas "interesse comum e sem obrigação recíproca".

Organogramas. Ao conseguir os nomes e os cargos dos principais dirigentes de uma longa lista de empresas, muita gente imagina que descobriu o mapa da mina do networking. O entusiasmo vira frustração rapidinho, no momento em que não há nenhuma resposta do "Caro Sr. Saul Moura, vice-presidente de Gestão de Pessoal" para um currículo enviado. Isso ocorre porque aí faltou um ingrediente básico do networking: o conhecimento mútuo.

E como se constrói um bom networking? Não é fácil, mas também não é tão complicado:

1. Evitando o caminho mais difícil. É mais simples começar por pessoas conhecidas, como os colegas de escola. A maioria desconhece o paradeiro de 95% de seus ex-colegas. Alguns deles podem ter progredido na carreira.

2. Freqüentando ambientes públicos onde pessoas com bom trânsito nas empresas (isto é, as que já têm um bom networking) costumam dar as caras, como seminários, feiras e eventos. Nesses locais, o assunto principal é sempre menos importante que o coffee break. Sentar ao lado de um headhunter num simpósio qualquer já é um passo enorme.

3. Não cometendo o mais comum dos erros, o de pedir algo já no primeiro contato. Coisas do tipo: "Dona Olga, eu sou amigo do Freitas, que trabalhou com a senhora há 15 anos. Olha, estou precisando de um favorzinho seu..."

4. Tendo paciência. Estruturar um networking é como construir uma casa: primeiro, os alicerces. E o momento ideal para começar é quando não se está desabrigado.


(Max Gehringer (max.comedia@abril.com.br) é consultor e palestrante)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O valioso tempo dos maduros

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Ha ainda pessoas que não debatem conteúdos, apenas os rótulos.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade...

Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!"

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domingo, 15 de agosto de 2010

Povoar a solidão

A sua é de que tamanho? Difícil encontrar alguém que tenha uma solidão pequena, ajustada, do tipo baby look. Geralmente, a solidão é larga, esgarçada, como uma camiseta que poderia vestir outros corpos além do nosso. E costuma ser com outros corpos que se tenta combatê-la, mas combatê-la por quê?

Se nossa solidão pudesse ser visualizada, ela seria um vasto campo abandonado, um estádio de futebol numa segunda-feira de manhã. Dói, mas tem poesia. Talvez seja por aí que devamos reavaliá-la: no reconhecimento do que há de belo na sua amplitude.

A solidão não precisa ser aniquilada, ela só precisa de um sentido. Eu não saberia dizer que outra coisa mais benéfica há para isso do que livros. Uma biblioteca com mil volumes é um exército que não combate a solidão, mas a ela se alia.

A solidão costuma ser tratada como algo deslocado da realidade, como um tumor que invade um órgão vital. Ah, se todos os tumores pudessem ser curados com amigos. Uma pessoa que não fez amigos não teve pela sua vida nenhum respeito. Nossa solidão é nossa casa e necessita abrir horários de visita, hospedar, convidar para o almoço, cozinhar com afeto, revelar-se uma solidão anfitriã, que gosta de ouvir as histórias das solidões dos outros, já que todos possuem seus descampados.

A solidão não precisa se valer apenas do monólogo. Pode aprender a dialogar e deve exercitar isso também através da arte. Há sempre uma conversa silenciosa entre o ator no palco e o sujeito no escuro da platéia, entre o pintor em seu ateliê e o visitante do museu, entre o escritor e o seu leitor desconhecido. Ah, os livros, de novo. De todos os que preenchem nossa solidão, são os livros os mais anárquicos, os mais instigantes. Leia, e seu silêncio ganhará voz.

Às vezes, tratamos nosso isolamento com certa afetação. Acendemos um cigarro na penumbra da sala, botamos um disco dilacerante e aguardamos pelas lágrimas. Já fizemos essa cena num final de domingo - tem dia mais solitário? É comum que a gente entre na fantasia de que nossa solidão daria um filme noir, mas sem esquecer que ela continuará conosco amanhã e depois de amanhã, deixando de ser charmosa e nos acompanhando até o supermercado. Suporte-a com bom humor ou com mau humor, mas não a despreze.

Permita que sua solidão seja bem aproveitada, que ela não seja inútil. Não a cultive como uma doença, e sim como uma circunstância. Em vez de tentar expulsá-la, habite-a com espiritualidade, estética, memória, inspiração, percepções. Não será menos solidão, apenas uma solidão mais povoada. Quem não sabe povoar sua solidão, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão, escreveu Baudelaire.

Ah, os livros, outra vez. 

(Martha Medeiros)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Amor, liberdade, sexo e promiscuidade

“…A maioria das pessoas vê o problema do amor, antes de tudo, como o de ser amado, em lugar do de amar, da capacidade de alguém para amar. Assim, para essas pessoas o problema é como serem amadas, como serem amáveis. Na busca desse alvo, seguem diversos caminhos. Um deles, especialmente utilizado pelos homens, é ter sucesso, ter todo o poder e riqueza que a sua posição social permitir. Outro, especialmente utilizado pelas mulheres, é tornarem-se atraentes, pelo cuidado com o corpo, o vestuário, etc. Outros modos de se fazer alguém atraente, usados tanto por homens como por mulheres, são o desenvolvimento de maneiras agradáveis, conversação interessante, a prestatividade, a modéstia, a inofensividade. Muitas das maneiras de uma pessoa se tornar amável são as mesmas empregadas para obter sucesso, “para conquistar amigos e influenciar os outros”. Na realidade, o que a maioria dos de nossa cultura considera ser amável é, essencialmente, uma mistura de ser popular e possuir atração sexual.”

Trecho extraído do livro A Arte de Amar, de Erich Fromm.
Segunda-feira. Dois amigos solteiros almoçam juntos.
- E então, como foi a festa de sábado?
- Foi demais! Tinha mulher saindo pelo ralo. Peguei três e comi uma em meu apartamento. Ontem, domingo, saí com outra delas e que também já é certo que vou comer.
- Ué, sua namorada não foi?
- Não. Dei um perdido nela. Falei que estava cansado e que não queria sair. Eu tinha que ir sozinho nessa festa. Sabia que ia bombar.
- Que legal!! Você é foda!
Acabou o relato sobre a festa.

Durante muitos anos, tenho lido e ouvido que o mundo orbita em torno do sexo. Claro que sempre concordei com essa afirmação, pois sentia a sua verdade na minha pele e nos comportamentos das pessoas, principalmente dos homens. Aqueles menos providos de beleza física e/ou mais dotados de timidez eram, simplesmente, “menos” do que os outros cujas coleções de novas conquistas cresciam vertiginosamente e que sempre tinham um novo troféu de saia para exibir em suas galerias de títulos de garanhões da temporada.

O homem, principalmente – mas claro que não apenas ele, quando se veste, exercita seu corpo para ganhar músculos, compra um apartamento bem localizado, um carro ou uma roupa, estuda, atualiza-se a respeito do que está ocorrendo no mundo, tornando-se “o esclarecido”, consegue um bom emprego, melhora de salário, etc, no fundo, pensa em maiores facilidades para conseguir o que? Sexo.

Eu, por pura ingenuidade estúpida – mais estúpida do que ingênua, achava essa postura natural do ser humano macho. Natural não no sentido de comportamento normal – porque realmente o é; eu achava que fazia parte de nossa essência de macho mesmo. Atualmente, menos idiota, percebo que até certo ponto, sim, mas tenho conseguido enxergar um grande espaço para inserir um sensato não.

Gostaria de deixar bem claro que possuo um conceito bem diferente da moralidade sobre a promiscuidade. Ela, para mim, não está associada à intensidade da variação de parceiros sexuais. Associo a promiscuidade à qualidade dos encontros, às razões que levaram a pessoa a escolher o parceiro e com ele aceitar fazer sexo e com que frequência o sexo pelo sexo ocorre no cotidiano de determinado homem ou mulher, deixando a conhecida sensação de vazio.

Li, durante essas férias, duas vezes, o livro do sociólogo americano Anthony Giddens, da Universidade de Cambridge, chamado A Transformação da Intimidade. Essa leitura solidificou muitas conclusões que tenho tirado de experiências com as minhas liberdades interior e relacional, as quais tenho me proposto a aumentar cada vez mais.

Segue o relato de um homem, extraído do livro, feito durante uma reunião de um grupo de autoajuda para pessoas viciadas em sexo. Para quem não sabia, esses grupos existem, inclusive no Brasil, semelhantemente aos Alcoólicos Anônimos.

“Compreendi que as medidas que sempre havia assumido para afastar a dor tornaram-se imensuravelmente dolorosas: levar uma mulher para a cama não funcionava mais para mim. Perdi muita coisa na busca do meu vício, e a minha sensação de vazio pessoal agora me atingia minutos depois de minha última conquista. O sexo não me proporcionava nada além da liberação da minha ejaculação; muito frequentemente, sequer, eu conseguia atingir o orgasmo. As mulheres não eram mais objetos de amor ou de desejo. Eu havia atingido o ponto em que sentia repugnância por minhas parceiras, mesmo quando as penetrava, e a causa da minha aversão era, principalmente, o fato de eu saber o quanto eu precisava delas.[...] Nenhum de nós jamais sente aquela satisfação no abraço mais íntimo, que o instinto e a razão me dizem que deveria ocorrer.”

Independentemente do gênero, todos nós que temos ou tivemos, em algum período, vidas sexuais ativas, sabemos muito bem o que é essa sensação de nada, após o sexo ou no dia seguinte. O máximo que conseguimos é gozar – quando ocorre. Minutos depois, dá vontade de virar fumaça e sair pela janela, sem direito à despedida. Não houve o que chamo de “comunicação” ou troca de boas energias durante o sexo.

A mulher, em geral, não se permite novas tentativas sucessivas, freqüentes e em pouco espaço de tempo, em busca de outro encontro que talvez vá alimentar de verdade as carências de sua alma. Com isso, sua última experiência frustrante e vazia permanece por um bom tempo em sua mente, até tomar coragem para uma nova experiência. Muitas das vezes – mas nem sempre – ela tende a se reclusar sexualmente, por um período. O homem, se surgir uma nova oportunidade no dia seguinte, não a deixará passar. Ou seja, nele, existe sempre a esperança de que “amanhã será melhor”, permitindo-se experimentar, devido à “quase” ausência da culpa. Então, acumula uma sucessão de trepadas com as mesmas sensações: de nada. O que muda é se elas eram feias ou bonitas, extrovertidas ou tímidas, românticas ou resolvidas, ricas ou pobres, inteligentes ou limitadas, bundas e peitos grandes ou pequenos. Quanto às sensações, tudo igual. Depois ele se diz “experiente”.

Atualmente, tenho o prazer de estar descobrindo que esse sexocentrismo – podendo ser vício ou compulsão – e a desenfreada busca do ato sexual, com seu conseqüente vazio interior, são decorrentes, de uma forma bem simplista, da ausência de verdades nos relacionamentos, assim como do conhecimento e da liberdade das nossas sexualidades. Se não tenho intimidade com a minha essência, se não converso com o meu eu, jamais conseguirei saber o que a minha alma verdadeiramente deseja, do que ela precisa para ficar em paz, dando-me a sensação de bem-estar. Então, viro uma marionete da sociedade, que dita tudo que eu preciso.
Tudo tem me levado a concluir que as verdades – em um sentido muito amplo – são o ponto de partida para o nosso desenvolvimento como seres humanos. A partir delas surgirá a libertação interior e exterior e, consequentemente, da ditadura do sexo.

Estamos falando de que? De amor. Que tipo de amor? Amor pela verdade, amor pelo outro exatamente como ele é, independentemente de nossos interesses, necessidades e temores.

Erich Fromm, em seu livro A Arte de Amar, diz que “… a principal condição para realização do amor é a superação do narcisismo. A orientação narcisista é aquela em que só se experimenta como real o que existe dentro da pessoa, ao passo que os fenômenos do mundo exterior não têm realidade em si mesmos, mas são experimentados somente do ponto de vista de serem úteis ou perigosos. O pólo oposto ao narcisismo é a objetividade; é a faculdade de ver pessoas e coisas tais como são, objetivamente, e a capacidade de separar esta imagem objetiva de uma imagem formada pelos desejos e temores que se tenham. Todas as formas de psicose mostram a incapacidade de ser objetivo, em extremo grau. Para a pessoa insana, a única realidade que existe está dentro dela, é a de seus temores e desejos”.

A nossa sociedade narcisista, romântica e patriarcal inventou um mundo irreal para que nele vivêssemos e o aceitamos sem nada questionar. Inconformado, resolvi afrontar esse mundo imposto, e a reboque, sua sociedade, o romantismo, o patriarcado e tudo mais que castrava o meu livre-arbítrio, na tentativa de descobrir do que eu realmente preciso para viver em paz. Curiosamente, descobri que, inicialmente, em sequência lógica, só preciso do seguinte:
1) Conseguir ficar sozinho – só toma conhecimento do que é o amor puro e verdadeiro aquele que exercita a solidão e consegue conviver bem com ela, Poucos conseguem enxergar nela a poderosa e única aliada para o autoconhecimento, logo, poucos têm contato com esse tipo de amor;

2) Exercer e estimular, cada vez mais, sem medo do desconhecido ou vergonha de ser diferente, a expressão da verdade sobre minha sexualidade, assim como a de quem estiver comigo, mesmo que as duas passem como um rolo compressor sobre todos os proibitivos preceitos morais vigentes – sem dúvida, passarão;

3) Exercitar o pensamento, a expressão e a ação da minha liberdade e permitir que as pessoas com quem me relaciono façam o mesmo. Quanto mais a pratico, mais descubro quanto tempo eu perdi e o quanto fui enganado pela masculinidade que me ensinaram a exercer; e

4) Ter coragem para ousar práticas de relacionamentos nada usuais e condenados pela sociedade, quando acredito serem factíveis e superiores aos convencionais, sintéticos e nada naturais, baseado somente em minha consciência e intuição, após várias conversas comigo mesmo – que ocorrem diariamente.

Durante algum tempo praticando o acima descrito, estou tendo uma grata surpresa, ao perceber o meu narcisismo desaparecendo, aos poucos. Finalizei o processo? De forma alguma. Ele está apenas no começo, mas já tem me rendido excelentes frutos. O principal deles foi passar a dar menos importância ao sexo, tirando-o da condição de protagonista das minhas relações e colocando-o em seu devido lugar: o de uma agradável e inevitável conseqüência. Aqui entra a objetividade comentada por Erich Fromm. É bastante óbvio e racional que eu só posso amar e desejar de verdade aquele que eu conheço de verdade – e isso se estende às relações entre amigos e entre pais e filhos. A palavra desejo sempre nos remete ao sexo. Porém, falo de desejo pelo ente humano que com ele carrega suas idéias, comportamentos, idiossincrasias e filosofia de vida… mais uma vez, apesar dos nossos interesses, necessidades e temores.

Somente agora, no finalzinho do artigo, entro na questão central do post. Atualmente, vivo em total liberdade e em intenso regime de verdades, tendo apresentado a todas as mulheres que conheço, parceiras ou apenas amigas, quem realmente sou, além de, avidamente, demonstrar querer saber quem elas também são, o que pensam, estimulando-as, sinceramente, a assumir e exercer suas sexualidades. Deixo claro que somente eu tomo as decisões sobre minha vida e faço minhas escolhas – e vice-versa. Isso tem sido compreendido e tenho conseguido, com sucesso, manter relacionamentos intensos de amizade e cumplicidade, com amigas ou parceiras sexuais – que também nunca deixam de ser verdadeiras amigas.

O interessante é que, apesar da liberdade, encontro-me, atualmente, em um regime praticamente de monoamor – ou de monogamia sexual, como é mais conhecido, sem controles e cobranças. Pura opção mesmo, apesar de eu não estar fechado a nada. Por quanto tempo mais pode durar essa escolha? Não sei e não me preocupo com isso. Posso passear entre momentos de mono e polirrelações, contanto que eu esteja bem comigo mesmo e que as verdades nunca sejam deixadas de lado. Pergunto: essa tranquilidade e paz é, estranhamente, apesar da liberdade ou é decorrência dela? Tenho certeza de que é consequência.

Assim sendo, será que a liberdade é tão perniciosa aos relacionamentos quanto os românticos defendem estereotipadamente e sem pensar? Ou será que não passa de uma postura covarde decorrente de inseguranças narcisistas? A grande maioria dos homens – praticamente todos – não faz idéia do quanto essa masculinidade imposta, com o mito do corno, da posse, dominação, honra, virilidade, infalibilidade sexual, etc, elimina qualquer possibilidade de um relacionamento puro e verdadeiro. Não fazemos idéia do quanto esses mitos nos tornam pequenos, mesquinhos, egoístas e incapazes de amar, no sentido mais sublime da palavra.

Em meio à transformação social que se encontra em curso há algumas décadas, há tempo entramos na fase da busca dos relacionamentos especiais, que vai muito além da busca da pessoa especial – boazinha, companheira, cuidadosa, fiel, que abdica de suas vontades para satisfazer o outro, etc. Basta olharmos em volta e veremos inúmeros casamentos entre “pessoas especiais” sendo desfeitos, por iniciativas femininas, por serem relacionamentos insatisfatórios. Infelizmente, poucos homens conseguem se sensibilizar a esse respeito… estão ficando para trás e mesmo assim não conseguem enxergar conscientemente a poeira que as mulheres estão deixando. Resumindo, estão perdidos.

Se os fanáticos românticos conseguissem entender que a liberdade e as verdades proporcionam uma paz interior capaz de minimizar bastante o ímpeto masculino de ser “promíscuo”, de trepar, tornando as pessoas muito mais seletivas, ensinando-lhes o que é sentir verdadeiro afeto em um abraço e a amar em um sentido bem amplo e desfocado do sexo… se soubessem como é maravilhoso não ter medo das verdades do parceiro, vivendo e também proporcionando a liberdade, deixando o par muito mais seguro – já que a segurança é o que mais buscam, cinicamente nomeando-a de amor – deixariam de lado as mentiras e migrariam “voando” para o regime de liberdade. Aqueles vazios no café da manhã do dia seguinte dificilmente voltarão a tomá-los.

A hipocrisia dos casamentos institucionais tidos como moralmente corretos, além de limitar os relacionamentos à superficialidade, ainda tem a característica de lançar cônjuges e namorados – sem o(a) parceiro(a) – em direção ao proibido, que são os “episódicos encontros Miojo”, quando o sexo e a novidade assumem imensa importância. Então, vivemos repetindo que o proibido é extremamente excitante – e não o deixa de ser. No entanto, devido às mentiras, acabamos nos contentando com esses romances furtivos e deixamos de conhecer outros encontros muito mais excitantes e cheios de sensações cúmplices, quando duas pessoas resolvem conhecer juntas o que existe por trás das disseminadas imoralidades proibidas. Porém, agora em um ambiente desprovido de mentiras, culpas e, consequentemente, favorável às novas descobertas, que vão muito além do sexo: sobre a própria vida. Dessa forma, troca-se o Miojo por um banquete real, quando se descobre que a liberdade torna os relacionamentos muito mais nobres e é bem mais excitante do que o proibido.

Muito do que escrevi sobre os homens adequa-se perfeitamente aos atuais comportamentos de muitas mulheres. Porém, existem várias nuanças e diferenças que esclarecerei durante os comentários, a fim de que o artigo não se torne enorme – já não ficou?

(Extraído do site: http://elanuaecrua.com.br)

sábado, 7 de agosto de 2010

Homens...


-Se um homem quer você, nada pode mantê-lo longe.

-Se ele não te quer, nada pode faze-lo ficar.

-Pare de dar desculpas (de arranjar justificativas) para um homem e seu comportamento.

- Para de tentar se modificar para uma relação que não tem que acontecer.

-Se uma relação terminar porque o homem não te tratou como você merecia, "foda-se, mande pro inferno, esquece!", vocês não podem "ser amigos". Um amigo não destrataria outro amigo.

-Se você sente que ele está te enrolando, provavelmente é porque ele está mesmo. Não continue (a relação) porque você acha que "ela vai melhorar"

-Você vai se chatear daqui um ano por continuar a relação quando as coisas ainda não estiverem melhores.

-A única pessoa que você pode controlar em uma relação é você mesma.

-Evite homens que têm um monte de filhos, e de um monte de mulheres diferentes. Ele não casou com elas quando elas ficaram grávidas, então, porque ele te trataria diferente?

-Sempre tenha seu próprio círculo de amizade, separadamente do dele.

-Nunca deixe um homem saber de tudo. Mais tarde ele usará isso contra você.

-Você não pode mudar o comportamento de um homem. A mudança vem de dentro.

-Nunca o deixe sentir que ele é mais importante que você... mesmo se ele tiver um maior grau de escolaridade ou um emprego melhor.

-Não o torne um semi-deus. Ele é um homem, nada além ou aquém disso.

-Nunca deixe um homem definir quem você é.

-Se ele traiu alguém com você, ele te trairá.

-Um homem vai te tratar do jeito que você permita que ele te trate.

-Todos os homens NÃO são cachorros.

-Você não deve ser a única a fazer tudo... compromisso é uma via de mão dupla.

-Você precisa de tempo para se cuidar entre as relações. não há nada precioso quanto viajar. veja as suas questões antes de um novo relacionamento.

-Você nunca deve olhar para alguém sentindo que a pessoa irá te completar... uma relação consiste de dois indivíduos completos.

-Faça-o sentir falta de você algumas vezes... quando um homem sempre sabe que você está lá, e que você está sempre disponível para ele - ele se acha...

-Não se comprometa completamente com um homem que não te dá tudo o que você precisa. Mantenha-o em seu radar, mas conheça outros...

-Compartilhe isso com outras mulheres e homens (de modo que eles saibam), você fará alguém sorrir, outros repensarem sobre as escolhas, e outras mulheres se prepararem.

-O medo de ficar sozinha faz que várias mulheres permaneçam em relações que são abusivas e lesivas: Dr. Phill

-Você deve saber que você é a melhor coisa que pode acontecer para alguém e se um homem te destrata, é ele que vai perder uma coisa boa.

-Se ele ficou atraído por você à primeira vista, saiba que ele não foi o único.Todos eles estão te olhando, então você tem várias opções. Faça a escolha certa.

Ladies, cuidem bem de seus corações... 

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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Dinheiro, beleza, inteligência… O que atrai as mulheres em um homem?

Nada disso. Mulher quer se sentir escolhida e vai desejar o homem que mais puder conquistar outras. Mas o que exatamente isso significa?

Não é uma questão de grana, corpo ou cérebro

“Mulher gosta é de dinheiro” é uma frase muito comum no discurso masculino, principalmente entre homens frustrados que se consideram bonitos, já fizeram alguns cursos de sedução com mestres PUA e agora, num bar, enquanto fazem piadas com o jargão, silenciosamente desistem de entender a dinâmica do desejo feminino.

Em outro canto, um nerd investidor chega sozinho em casa, depois de levar uma garota para uma restaurante caríssimo, e inveja o rosto bonito do amigo Don Juan que parece provocá-lo com sua foto do Twitter que sorri sem parar.

O ricaço bonitão, por sua vez, em algum outro restaurante, patina em total desconforto diante dos papos iniciados pela morena deliciosa à sua frente. “Hum, acho que sei do que ela está falando… Qual era mesmo a filosofia de Hume? Era algum lance sobre não sabermos se o Sol vai nascer amanhã, é isso?”. Ele está certo e poderia até brincar com sua dúvida (ainda mais com Hume), mas permanece quieto e logo desvia o assunto ao mesmo tempo em que ela desvia seus olhos para a rua, não exatamente em busca de um historiador da filosofia, mas de um homem qualquer, menos covarde, que pudesse ouvi-la e seguir a conversa.

E enfim, numa sala de reunião ali perto, os homens com a combinação perfeita: dinheiro, beleza e inteligência. Ah, sim, muito deles são traídos por não terem tempo. E se tiverem tempo, senso de humor e treparem como animais… bem, algo me diz que não será suficiente.

O que dinheiro, beleza e inteligência tem em comum?


Todos os caras que tem dificuldades em seduzir uma mulher estão parcialmente certos ao culpar a ausência de grana, boa aparência ou plasticidade mental. No entanto, a razão para isso não é o fato de que as mulheres são atraídas por dinheiro, beleza e inteligência, como se cada um dos quesitos constituísse 33% da nota final.

Na verdade, as mulheres procuram (sem saber) um homem com uma qualidade específica curiosamente presente em homens extremamente bonitos, ricos, poderosos e inteligentes. Entretanto, ela pode muito bem existir na ausência de tais atributos – em teoria, pelo menos.

Quem é esse homem tão desejado pelas mulheres? É o homem que pode escolher.
 
“Você é especial”

    “Os amores da vida são fundados num quiproquó tanto quanto os amores terapêuticos. Quando nos apaixonamos por alguém, a coisa funciona assim: nós lhe atribuímos qualidades, dons e aptidões que ele ou ela, eventualmente, não têm; em suma, idealizamos nosso objeto de amor. E não é por generosidade; é porque queremos e esperamos ser amados por alguém cujo amor por nós valeria como lisonja. Ou seja, idealizamos nosso objeto de amor para verificar que somos amáveis aos olhos de nossos próprios ideais.”
    –Contardo Calligaris, em Cartas a um Jovem Terapeuta


Depois dessa citação do Calligaris, você já pode brincar com sua namorada quando ela soltar elogios:

    “Você só me acha esperto, gostoso e charmoso porque quer ser amada e desejada por um cara esperto, gostoso e charmoso.”

Não só ela. Todos nós, homens e mulheres, somos mendigos absurdamente carentes de olhares. Queremos nos sentir vivos – e nada melhor para isso do que uma pessoa com olhos brilhantes ao nosso lado. Queremos ter uma existência com sentido, ser alguém especial. Um parceiro que acredite em vidas passadas, almas gêmeas e amor eterno, piscando em nossa direção, talvez dê conta do recado.

Já que nossos pais não são imortais para sustentar pra sempre nossa identidade de filho, empresas e projetos oscilam demais para manter nossas identidades profissionais, amizades se alternam, cidades se movem, os times caem para a segunda divisão, sobram duas opções pra quem está tentando ser alguém: casar e ter filhos. Marido e esposa, pai e mãe. Eis talvez as únicas identidades que podemos (com sorte) sustentar até a morte.

Está explicado porque o casamento é a nossa maior esperança de felicidade. Jogamos nosso ar dentro dos pulmões do outro (no começo, ele a deixa “sem ar”) e depois torcemos para que ninguém vá embora (no fim, ele não consegue mais respirar).
Mas não vamos deixar nossa vida na mão de qualquer um. De que vale um elogio “Você é um gênio!” vindo de alguém com baixo QI? Pode admitir: é muito mais gostoso ouvir “Você é um gato” de uma mulher estonteante do que de uma feiosa.

Para que a gente se sinta especial, é preciso antes que nosso parceiro seja especial! Caso contrário, a gente não acredita, o encanto não pega, a mágica não funciona.

“Ela é especial” é uma das primeiras frases na fala de um homem apaixonado. O que ele esquece de dizer é o seguinte: “Preciso encontrar razões para que ela seja especial, caso contrário eu não acreditarei quando ouvir dela que sou especial”. E então ele diz que ela também adora AC/DC, se ela for um pouco gorda. Ressalta que ela faz tudo na cama, se não for tão esperta…

Mas nenhum desses elogios se compara ao grande “Você é especial”. Inteligentes muitos são, bonitos, ricos, gostosos também. Agora, o que mais desejamos é ser únicos, singulares, ímpares, fodões, insubstituíveis. Ou melhor, sem plural: premium, VIP, edição limitada, one of a kind.

Mais do que elogiados, queremos ser escolhidos. Não entre dois, três ou dez. Mas entre todos, de todo o o Brasil, de todos os países, continentes – planetas, se possível. Se encontro alguém que poderia conquistar 4% das pessoas e ouço um “Você é especial, você é tudo pra mim, case-se comigo”, bem, sou 4% especial, ou melhor, especial num universo muito pequeno. Eu poderia confessar a um amigo: “Eu não gosto tanto dela!”. A  verdade? “Ela não é especial o suficiente para me fazer acreditar que sou especial”.

O verdadeiro tesão em comer uma mulher perfeita não está na perfeição do corpo (afinal esses detalhes não fazem muita diferença no prazer sexual), mas na sensação narcísica de ser escolhido por uma mulher que poderia escolher qualquer outro homem.

É isso que Calligaris quer dizer com “aos olhos de nossos próprios ideais”: não basta que o outro me admire; eu preciso ser admirado por aquilo que eu mais considero digno de admiração e, mais ainda, por alguém que admiro. Como não consigo fazer tudo isso sozinho, chamo mais um par de olhos.
 
A redenção dos homens e o fracasso da esperança feminina
Do outro lado, qual é o homem que mais poderia fazer uma mulher se sentir especial?

O homem que pudesse ter todas. O homem que pudesse, sem mentir, afirmar o seguinte: “Eu poderia estar agora com qualquer outra, mas estou com você”.

É por isso que dinheiro, inteligência e beleza parecem ser fatores de atração: eles ampliam o leque das possíveis mulheres que um homem pode conquistar. Qualquer outro atributo que faça o mesmo (ter um blog lilás, por exemplo) fará o papel do dinheiro. Ou seja, as mulheres não querem dinheiro, elas querem o que as outras mulheres parecem querer. Jessicar Parker e Melissa Burkley, duas pesquisadoras da Universidade de Oklahoma, concordam: mulheres preferem homens casados.

O que deixa tudo ainda mais engraçado: o nosso desejo não tem base alguma, não tem um objeto rastreável que poderia ser encontrado e entregue para nosso completo gozo. O nosso desejo – e principalmente o das mulheres (pergunte o porquê para Freud e Lacan) – é montado em cima de outro desejo, que por sua vez se monta em cima do nosso, como em uma caminhada de dois cegos: “Vou te seguir, você tá olhando tudo, né?”.

Embora muitas mulheres se satisfaçam por um tempo com esse atestado imperfeito (“Ele poderia ter 90% das mulheres, mas me escolheu”), poucas desconfiam que essa impossibilidade de encontrar tal homem 100% garanhão é a prova final do fracasso desse processo de dependência. Não vai dar certo: homem algum conseguirá fazer sua mulher acreditar que é especial porque, no fundo, ela sempre vai pensar “Se ele pudesse pegar outras melhores, ele não estaria comigo”.

Aos homens, coitados, não sobra tempo sequer para relaxar um pouco depois dessa redenção. É nosso o mesmíssimo fracasso. Nenhuma mulher conseguirá atender ao que pedimos, sem saber, no começo da relação: “Seja uma mulher desejada por todos, uma mulher que possa ter qualquer um, quando quiser, e me escolha como seu homem; assim me sentirei um grande homem”. Sofremos do mesmo tipo de alucinação de Pinky e Cérebro. Não, não vamos conquistar o mundo.

Fica complicada até mesmo a vida do cafajeste que se propõe a usufruir dessa dinâmica para seduzir várias mulheres. Nenhuma delas vai conseguir estabilizar a identidade de Don Juan. Enquanto o homem comum se preocupa em seduzir mulheres, os cafajestes gozam mesmo ao conquistar desejos e assim afirmam sua identidade e seguem com sua energia. Assim que um desejo feminino for fisgado, ele será obrigado a partir para outra. Sua liberdade e possibilidade de escolha vai ter o mesmo tamanho de sua prisão.
 
Mas isso tem saída?

Abra qualquer livro de psicanálise – ciência maldita que começou a levantar tais questões – e vá direto ao fim. Muitas vezes a saída proposta é apenas isso: aceite esse processo e tente conviver da melhor forma com essa falta, essa impossibilidade, essa lacuna, esse vazio, esse abismo…

Eu concordo. Dentro desse jogo, não há resolução. Não há saída. Todos os condicionamentos estão bem costurados debaixo de nossa pele e não será tão fácil nos liberarmos desses padrões de comportamento narcísico, autocentrado. Adoro a visão psicanalítica justamente por ser tão  impiedosa ao corroer nossas mais queridas ilusões e esperanças.

Talvez, no entanto, haja algum jeito de agirmos com liberdade em meio a esses jogos, até porque é a própria liberdade que está sendo valorizada quando desejamos o homem ou a mulher que poderia conquistar qualquer outro. Em vez de tentar sequestrar esse desejo livre para satisfazer nossa carência, haveria outro modo de relação entre dois seres nada especiais e completamente substituíveis?

Cabe a nós experimentar outras possibilidades e dar o exemplo. Há 3 anos eu me propus a fazer isso e a relatar meus percursos por aqui.

Ainda estou longe. E você?

(Gustavo Gitti)