Finalmente criei um blog, mas infelizmente os textos que coloco não são da minha autoria, um dia, quem sabe, me atrevo a escrever alguma coisa.
Estou tentando, ao máximo, ser fiel aos escritores, mas nem sempre consigo, então na incerteza da autoria, estou colocando AD (Autor Desconhecido). Com relação às fotos, estou buscando no Google e não cito as fontes por não saber a quem pertence.
Caso você encontre aqui algum erro de autoria, alguma foto que não posso usar sem citar a fonte, favor comunicar.

Meus beijos e sejam bem vindos!
Virgínia Costa

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Relacionamentos sem corpo

O que na filosofia ganha efeitos meramente acadêmicos, nos relacionamentos pode resultar em muito sofrimento ou várias brochadas (i.e., o que poderia mas não acontece). Pior que amor não vivido é aquele mal vivido.

Ele passa a noite toda hesitando em dançar. Ela percebe seu desconforto e pára de insistir. No dia seguinte, ele envia um email carinhoso descrevendo seus sentimentos por ela. Um texto que reencena poeticamente o melhor beijo da noite e, ao fazê-lo, tira o foco do fato cru: ele não conseguiu expressar todo esse amor durante a noite.

Ele lê Vinícius e Whitman para ela ao telefone. Seu desejo vira flores, jantares e SMS de madrugada. Ela se envolve e se entrega, até que enfim tira a roupa. O menino poeta agora não mais tem palavras em mãos. Ele tem as próprias mãos. Com pé, boca e pele, qual poema sai? Frustrado, descobre que não sabe bem como conduzir o quadril dela do mesmo modo que movia seus pensamentos à distância.

Uma relação pode até começar com uma metáfora, mas o amor não se vive como metáfora. Uma história a dois se inicia quando ambos compartilham sonhos, quando a aventura mitológica de um encontra espaço no caminho poético do outro. Porém, enquanto o prelúdio amoroso é conotativo (“Você é como uma…”; “Quando digo isso, quero dizer…”; “Esse CD simboliza aquela noite…”), a vida da relação é denotativa: “Quando eu beijo você, isso significa que eu beijo você”.

Durante a conquista, podemos penetrar o outro com palavras. Isto porque o ato de sedução é uma espécie de promessa de relacionamento. No meio do namoro, entretanto, para penetrar o outro é preciso realmente penetrar o outro. Só o corpo é capaz da verdadeira poesia: dizer aquilo que de fato se quer dizer.

Entre o macrorelacionamento do mito e o microrelacionamento do detalhe, mais importa o segundo, a expressão, a explosão viva do que adormecia no potencial dos arquétipos. Seu amor por ela não está no sonho que vocês constróem há anos, na conversa após a briga ou na história que você conta a si mesmo. Seu amor por ela inexiste na memória. Ele está sempre naquilo que você faz agora, só aparece quando exercido e praticado. Amor é ação. Presença.

Energia sem nome, força sem rosto. Vida crua, livre de discursos, adornos, memórias ou associações. Vontade avassaladora, direta, anterior às metáforas e significações. Fato vivido, que dispensa emails posteriores. Prosa deitada, sem poesia.

Quando não nos relacionamos com o corpo, deixamos desejos perdidos em sublimações desencarnadas. Gastamos energia, nos esforçamos e ainda assim deixamos de viver tudo o que podemos. Afinal, declamar poema nunca engravidou ninguém. Além de não viver, abrimos espaço para a dor. O que é brigar senão perder o contato com os próprios pés? Observe um casal em discussão e veja como ambos parecem pairar sobre suas cabeças, um tentando voar mais que o outro. Atente para si mesmo durante uma briga e sinta como você perde completamente o contato com o próprio corpo. Eis o outro lado do romantismo desincorporado.

(Gustavo Gitti)

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